terça-feira, 19 de março de 2013

O que aí vem não vai ser bom...

Nenhum político gosta de dar más notícias ao povo. Em situações de crise, essa atitude é agravada pelo facto dos políticos estarem convencidos que as boas notícias animam as pessoas e que o optimismo é meio caminho andado para se resolverem os problemas. Por isso, os governantes nunca dizem a verdade completa aos governados. Mesmo quando estão perante o abismo. Muitos deles acreditam mesmo que são capazes de dar a volta aos factos, conseguindo fazer em pouco tempo e sem recursos o que não foram capazes de fazer quando tinham uma coisa e a outra. Estes são, de longe, os que podem provocar os piores danos, porque estão completamente alheados da realidade, da sua própria e da do país em que têm responsabilidades. Ainda há pouco tempo assistimos a José Sócrates a resistir ao pedido de ajuda económica, convencido que ainda conseguiria evitar a bancarrota, quase seis anos depois de dispor do país como, infelizmente, muito bem quis. Vitor Gaspar não levou o país à bancarrota, porque ele já lá estava quando assumiu funções, nem dispôs de meios faraónicos para o recuperar, mas emprestou o seu nome a uma estratégia de recuperação que não podia resultar. E disso é inquestionavelmente responsável.

Ora, o que se passa hoje com Portugal é por demais evidente para qualquer cidadão que não tenha responsabilidades políticas, nem adorações ideológicas ou partidárias que o ceguem. Por motivos que já nem interessa discutir, o estado e o país estão tecnicamente falidos, por isto se querendo dizer que não produzem a riqueza suficiente para pagar a sua despesa pública e a dívida que ela acumulou ao longo dos anos. Para reverter esta situação seria necessária uma radical redução dos custos correntes do estado, que nenhum governante tem coragem de assumir, porque provocaria uma hecatombe social de efeitos graves e imediatos. Infelizmente, o estado foi somando erros sobre erros, durante muitos anos, na forma como foi lidando com os cidadãos e nas expectativas que lhes criou sobre o modo como deviam conduzir as suas vidas: confiando sempre na existência de direitos económicos inalienáveis, que o estado lhes garantiria caso lhes falhassem. Desgraçadamente, um modelo social paternalista, imobilista e inimigo da produção e da responsabilidade individual com anos e anos de consolidação, não se substituiu em pouco tempo por um modelo económico produtivo e empresarial.

O que o governo português tem feito, aplicando as regras, impostas pela troika, de uma gestão racional, desenhada para tempos de crise, mas de relativa normalidade, tem sido tapar buracos, sem verdadeiramente conseguir fechar nenhum, e aguardando que um milagre – as exportações, a União Europeia, um tecido empresarial cada vez mais frágil – inverta a situação e salve o país. Porque, a não ser um milagre (no qual José Sócrates também acreditava, convencido que a sua inflexibilidade atemorizaria os credores e a União Europeia), o país só pode agravar mais ainda a sua situação financeira e o défice das contas públicas.

De facto, por cada aumento de impostos para alimentar o défice aumentam as falências, com as falências aumenta o desemprego, com o desemprego aumentam necessariamente os subsídios e os apoios do estado, crescendo, assim, o défice público em vez de diminuir, como se pretendia com as medidas fiscais. Por outro lado, a falência das nossas empresas não resulta do livre jogo do mercado, no que seriam facilmente substituídas por outras, não resulta nem da concorrência, nem da insatisfação dos consumidores, mas da pura e simples destruição do mercado, provocada pelo excessivo intervencionismo do estado que asfixiou fiscalmente as empresas e as pessoas, e descapitalizou os bancos que as podiam apoiar nos momentos de dificuldade. Neste cenário, como pode conceber-se uma recuperação da economia portuguesa que simultaneamente pague uma gigantesca dívida pública, equilibre a despesa corrente do estado (sempre necessariamente crescente em momentos de crise social) e ainda consiga criar empresas, emprego e riqueza que sustentem tudo isto, num cenário de crescimento desmesurado da carga fiscal e dos custos de produção? Isto é materialmente impossível, como é óbvio.

Por outro lado, a solução socialista de suportar a dívida pública e produzir «crescimento» económico injectando dinheiro na economia, a velha fórmula que, no fim de contas, nos trouxe até aqui, é, ela também, uma impossibilidade evidente. Porque, por um lado, não temos esse dinheiro nem ninguém que no-lo empreste, e, por outro, se ainda tivéssemos ao nosso alcance a rotativa que produz moeda fiduciária (o Dr. Mário Soares sugeriu, há semanas, que a ligássemos novamente…), não estaríamos a fazer nada mais do que produzir folhas de papel com o símbolo da República, que apenas contribuiriam para aumentar a inflação e empobrecer ainda mais o país.

Portugal está, deste modo, numa encruzilhada sem saída à vista. Com Passos e Gaspar, com outro Gaspar qualquer que Passos possa nomear, com Tozé ou Costa, o país já não depende de si mesmo, muito menos dos políticos que eufemisticamente o governam ou possam vir a governar nos próximos anos. Como qualquer empresa irremediavelmente falida, Portugal está inteiramente nas mãos dos seus credores e da União Europeia, na qual está política e economicamente integrado, e que é uma espécie de fiador das soberanias que a compõem. Estes, por sua vez, demonstram sinais crescentes de nervosismo e impaciência nunca antes vistos na história da União, como ficou bem claro com a intervenção no Chipre, que é um sério aviso e ameaça à navegação.

Neste momento, a única coisa que podemos ter quase como certa, e que a 7ª auditoria da troika se limitou a confirmar, é que o que aí vem não vai ser bom.

Fonte: Blasfémias

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