quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Coimbra de ontem e de hoje!

Coimbra_ontem_hoje

Compreender a dívida pública...

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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Carta ao meu filho sobre estes dias que correm

Escrevo-te no final de um estranho mês de Outubro. Depois de um Verão triste, tivemos sol e calor. Na praia e o mar estava estranhamente calmo. Teriam sido semanas descontraídas e alegres se não fossemos lendo as notícias. Sabíamos que elas, quando chegassem, seriam más – mas não estávamos à espera de notícias tão más.
Sou funcionário público e a tua mãe também! Perderemos, nos próximos anos, os subsídios de férias e de Natal. E por isso estamos meio atordoados.
É natural. Não estávamos à espera. Ninguém estava à espera. Mesmo eu, que há muito defendia a necessidade de diminuir os gastos com a função pública, não imaginava que fosse assim.
No entanto tenho a percepção da fatalidade. Julgo que muita gente a tem. O dinheiro acabou. O nosso e até o que nos emprestam. Não posso nem quero imaginar que fosse através de mais impostos que se resolvessem as aflições do próximo Orçamento, como parece sugerir o Presidente da República. Não posso nem quero imaginar que o governo deste país continuasse a fazer como os governos do passado, a fingir que cumpria as metas disfarçando as dívidas.

É por isso que não posso deixar de pensar: o que foi que nos trouxe até aqui? O que foi que nos meteu neste poço a que só agora vemos as paredes escuras, negras?
Também te escrevo envergonhado. Porque escrevo para te dizer, por exemplo, que quando tiveres a minha idade, se ainda andares por este país, continuarás a pagar centenas e centenas de quilómetros de auto-estradas que se degradarão antes de chegarem a ter movimento que se veja. Ou para te alertar que bem antes de chegares à idade da reforma o sistema de pensões terá entrado em colapso (dizem-me que ainda haverá dinheiro para os da minha idade, mas não acredito).
Escrevo-te sobretudo para te contar como desperdiçámos a melhor oportunidade de um século de história. Ou mesmo dos últimos dois séculos.
Sei que muitos andam por aí a culpar “os políticos”. Têm razão: houve muita irresponsabilidade política, houve dolo e houve corrupção. Há alguns figurões a que nunca perdoarei, e espero que o país não perdoe. Mas eu não culpo só “os políticos”. Ou só “os banqueiros”, apesar de estes também terem contribuído para a irresponsabilidade do festim. Eu culpo também uma nação que se embebedou com a ilusão da riqueza fácil, do sonho de “ser como os outros europeus” no espaço de uma década.
No outro dia pus-me a olhar para o nosso carro. Seria necessário ter um modelo tão bom? Não. Mas tudo estava feito para que o tivesse. Em poucos anos, Portugal encheu-se de automóveis. Na Europa só os italianos têm proporcionalmente mais carros do que os portugueses. O parque automóvel de Lisboa é imensamente mais rico do que o de Copenhaga ou Estocolmo. Mas não só. Somos o povo com mais telemóveis. E o que mais casas próprias comprou. Até casas de segunda habitação.
Muitos da minha geração fizeram tudo para proporcionar aos filhos os bens de consumo a que eles próprios não haviam tido acesso, mas não fizeram o suficiente para que muitos da tua geração saíssem mais cede de casa dos pais. Há quem diga que é assim porque ainda acreditamos nos valores familiares, mas eu desconfio. Afinal com que família sonhamos se, ao mesmo tempo, somos um dos países da Europa onde nascem menos crianças?
Não te vou contar a história de todas as oportunidades falhadas. Ou de todas as políticas criminosas. Ou de todos os roubos, que também os houve. Prefiro tentar, mais humildemente, explicar como te expropriámos o futuro.

Nasceste, como eu nasci, num país de cultura atávica. Num país onde se prefere a protecção do nepotismo ao risco da emancipação. Um país habituado à segurança, mesmo que na pobreza relativa. A revolução não nos mudou, apenas transformou tudo em direitos. Os empregos tinham de ser para a vida, de preferência empregos no Estado. Ninguém pôde tocar nas rendas antigas, pelo que a minha geração teve de ir à procura de casa própria e a tua… nem isso. Os despedimentos são tabu. Houve até quem assumisse “direitos” como a reforma aos 55 ou 56 anos.
Neste país não há profissões: há posições. Quem as ocupa chama-lhes suas, e barra os caminho a todos os competidores. Neste país não há feriados: há “pontes” e fins-de-semana alargados. Neste país detesta-se a avaliação: somos todos “bons” ou “muito bons”. Neste país fala-se muito dos jovens, mas não há oportunidades nem bons olhos para os mais novos.
Enquanto a economia foi crescendo, enquanto o dinheiro (primeiro o dos emigrantes, depois o da Europa) foi chegando, parecia que corria tudo bem. Mas isso tinha de acabar, e acabou. Foi nessa altura que o desemprego dos da tua idade começou a disparar. Antes de disparar todo o desemprego.
Ninguém que, nessa época, chamasse a atenção para a insustentabilidade da nossa economia era ouvido. Gozava-se com o Medina Carreira. Diziam que todos os que chamavam a atenção para o risco de nos embebedarmos com os juros baixos eram apenas “velhos do Restelo”. Na nossa vida privada, comprávamos mais um plasma. No Estado, contratava-se mais uma PPP para outra auto-estrada ou outra Escola!

Quando penso no que nos aconteceu como país, e no que aconteceu ao Estado, lembro-me das campanhas da Cofidis e outras empresas de crédito fácil. Para muitos, esse dinheiro ao virar da esquina e a ilusão de que os ordenados aumentariam todos os anos, levou-os a comprar hoje o que julgavam poder pagar amanhã. Até que começaram a ver o salário penhorado por dívidas e, mesmo sem perderem os empregos, perderam os rendimentos.
O país todo portou-se da mesma forma. Desde 1995 que consumimos, em média, mais dez por cento do que produzimos. Sempre a crédito. Sempre com dívidas maiores. Sempre sem sermos capazes de nos emendarmos a tempo.
O que se passou no Estado – por via de vários governos centrais, dos governos regionais e das autarquias – foi muito pior. Inventaram-se expedientes para continuar a gastar sem pagar. Já deves ter ouvido falar das PPP’s, mas são só uma parte do problema. Há empresas públicas fictícias que, para financiar o Estado, lhe compram os imóveis e, depois, lhos alugam. Outras que fazem as obras para as quais não há (nem havia) dinheiro, como nas escolas. Outras, como as de transportes, que são veículos de endividamento. Se na Madeira se construiu uma marina que nunca teve barcos, em Lisboa há outra marina na Expo que nunca serviu para nada e em Beja um aeroporto vazio. O Alqueva já consumiu milhões e ainda não rega um hectare. E por aí adiante. A lista é infindável e o espantoso é que os autores dos desmandos andam por aí a rir e a atirar setas aos que, agora, tentam concertar a casa em ruínas.
Vivemos de mentiras – votámos mesmo em mentiras apesar de vários alertas – e na ilusão de que o dinheiro chegaria sempre. Não chegou. A factura que estamos a pagar é imensa. A que te vamos deixar, além de imensa, é imoral.

Chegámos a uma altura em que um governo nos veio dizer que temos de empobrecer. Admiro-lhe a frontalidade (gostei muito de ver, por exemplo, a franqueza com que o ministro das Finanças se explicou na televisão). Gosto da lufada de ar fresco que representa esta sinceridade.
A ti isso pouco te importa. O que conta é saber se saímos inteiros do embate deste “martelo-pilão”, como lhe chama o Pacheco Pereira. Acho que sim. Podemos ter um Orçamento que é como “um Houdini algemado dentro de uma camisa-de-forças fechado num aquário de água salgada”, uma imagem do Pedro Guerreiro, mas tal como o Houdini não temos alternativa senão safarmo-nos.
Talvez tenhas ouvido dizer que assim se acrescenta recessão à recessão. É verdade, mas só num primeiro momento. Depois, a única esperança que a minha geração pode devolver à tua é quebrar o ciclo da dívida e permitir que, sem loucuras, os bancos possam voltar a financiar a economia. Prosseguir o caminho que vinha detrás é alimentar a ilusão de que, continuando o Estado a gastar dinheiro, ou a estimular o consumo que nos levou ao endividamento, a economia recupera. Não acredites: afunda-se ainda mais. E passará aos da tua idade um passivo ainda maior.
O dever dos que têm a minha idade, sobretudo dos que, melhor ou pior, viveram os anos do bem-bom e estão razoavelmente instalados, não é declarem-se “indignados” por perderem alguns direitos – é aceitarem que algum ajustamento nos seus hábitos, mesmo um ajustamento doloroso e duro, é necessário para libertar recursos para os que têm realmente razões para se indignarem. Os da tua idade.
A minha geração passou a vida a reivindicar direitos pagos pelo dinheiro de todos. Ainda hoje continuo a ouvir por todo lado gente a pedir que se use o Estado para “apostar” na economia, o que quase sempre significa apostar nas empresas amigas. Possa a tua geração fazer em Portugal o que tantos de vocês fizeram emigrando: correr riscos, inovar, trabalhar com ambição, cerrar os dentes. A muitos da minha geração só se lhes saírem da frente. Mesmo deixando-te as SCUT’s para pagar.

Adaptado de: Blasfémias

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Ainda… Steve Jobs!…

A noticia da morte de Steve Jobs atingiu toda a Internet como uma onda que nos derrubou. A lutar contra a sua doença de forma corajosa e com uma força quase sobre humana, nada fazia esperar que fosse tão cedo a sua partida.




Nos comentários que apareceram por todo o lado, ouvi alguém que o comparou a Einstein… Penso que a comparação é pertinente, pois Jobs  foi um revolucionário das ideias e dos conceitos. O seu contributo fez com que tenhamos ferramentas que contribuem para uma vida bem mais facilitada.
Deixo aqui a reprodução integral do discurso mais famoso de Jobs: Stanford:

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Steve Jobs (RIP)

“A morte é muito provavelmente a melhor invenção da vida”, afirmou Steve Jobs, em 2005, frente a uma plateia de estudantes da Universidade de Stanford, nos EUA. “Lembrar-me de que todos estaremos mortos em breve é a ferramenta mais importante que encontrei para me ajudar a fazer as grandes escolhas na vida”.
O icónico fundador da Apple morreu ontem, 5 de Outubro, com 56 anos, um dia depois de ter sido apresentado o novo iPhone 4S, depois de anos com vários problemas de saúde relacionados com um tipo raro de cancro do pâncreas.



 

A Apple perdeu um génio visionário e criativo e o mundo perdeu um líder e mestre, ser humano fantástico!
Todos perdemos...

A importância da caligrafia

Frequentemente descrito como um empresário brilhante e um inventor visionário (tem o nome em mais de 300 patentes), é um exemplo do conceito americano de self made man.
Steven Paul Jobs nasceu a 24 de Fevereiro de 1955, em São Francisco, na Califórnia. Tanto o pai (um sírio a estudar ciência política) como a mãe (uma universitária americana) acharam que eram muito novos para o criar. Foi adoptado por um casal de classe média que morava em Mountain View, também na Califórnia – a zona que anos mais tarde viria a ser Silicon Valley, a meca da tecnologia a nível mundial.
Durante a adolescência de Jobs, várias empresas de tecnologia tinham instalações naquela área e ele cresceu num ambiente que acompanhava o despontar da electrónica pessoal.
Quando andava no liceu, em Cupertino (onde hoje é a sede da Apple), frequentava conferências nocturnas na Hewllet-Packard e chegou a trabalhar lá durante um Verão. Foi onde conheceu o funcionário da HP Steve Wozniak, um geek com talento para montar placas de circuitos e com quem viria a fundar a Apple.
Entrou para a Universidade de Reed, mas só esteve inscrito um semestre. O curso era demasiado caro para a bolsa dos pais. E Jobs “não tinha ideia do que fazer com a vida”, lembrou no discurso em Stanford.
Apesar de ter desistido do curso, continuou pelo campus. Dormia no chão no quarto de amigos e recolhia garrafas de cola para receber o dinheiro do depósito e comprar comida. Uma vez por semana, tinha “uma refeição decente” num templo hindu. E resolveu frequentar aulas de caligrafia, porque achava que os cartazes da faculdade (feitos à mão) eram bonitos. Nestas aulas, aprendeu princípios estéticos que marcaram não só a história dos produtos da Apple, mas também de todos os computadores pessoais.

O princípio da Apple

O primeiro computador Apple era basicamente uma placa de circuitos que tinha de ser montada pelos compradores. Foi lançado em 1976, custava 666,66 dólares e tinha sido desenvolvido por Jobs e Wozniak, na garagem dos pais de Jobs.
A empresa foi oficialmente fundada no ano ano seguinte. Em finais de 1980, avançou para uma triunfal entrada em bolsa. Jobs (então com 25 anos), Wozniak (cinco anos mais velho) e largas dezenas de outros investidores iniciais tornaram-se milionários instantâneos.
Com a empresa a crescer, o jovem empresário aliciou o então presidente da Pepsi, John Sculley (um executivo experiente) para o cargo de CEO. Segundo o mito, Jobs terá perguntado a Sculley se este queria passar o resto da vida a fazer água com açúcar ou se queria ajudar a mudar o mundo.
A Jobs coube então a tarefa de chefiar a divisão dos Macintosh, uma das gamas de computadores que a marca desenvolvia. Mas a relação entre Sculley e Jobs deteriorou-se e, na sequência de uma luta interna de poder, acabou por ser afastado da empresa que criara. Tinha 30 anos, era multi-milionário, solteiro, sentia (admitiu mais tarde) que falhara e não sabia o que fazer a seguir.

Fora da Apple

Após meses de reflexão, decidiu fundar uma nova empresa de computadores, chamada NeXT, que desenvolveu computadores topo de gama destinados aos mercados universitário e empresarial.
Um ano depois, em 1986, comprou o The Graphics Group à produtora Lucasfilm, de George Lucas. A empresa desenvolveu um computador destinado a sectores que precisassem de trabalhar com gráficos exigentes, como o cinema e a medicina. Mas o produto não foi bem sucedido e o The Graphics Group acabou por evoluir para a Pixar, o estúdio de animação que criou Toy Story, lançado em 1995 e que é o primeiro filme de animação com gráficos gerados por computador. Jobs surge na ficha técnica do filme como produtor executivo.
Mais tarde, em 2006, a Disney acabou por comprar a Pixar, tornando Steve Jobs no maior accionista individual daquela empresa, com cerca de sete por cento das acções.
Foi também durante o período fora da Apple que Jobs conheceu a mulher, Laurene Powell. Casaram-se em 1991, numa cerimónia dirigida por um monge budista (a religião de Jobs). Ele tinha 36 anos, ela era sete ou oito anos mais nova.
O casal tem um filho e duas filhas. Ele já fora pai em 1978. Na altura, começou por negar a paternidade da criança (alegando que era estéril), mas acabou por reconhecê-la e um dos primeiros computadores da Apple chamava-se Lisa, o nome desta primeira filha. Na versão oficial, porém, o nome do computador é a sigla de Local Integrated Software Architecture.

O segundo acto

Steve Jobs, foi o protagonista de um dos maiores segundos actos da indústria tecnológica dos EUA.
Em 1996, a Apple decidiu comprar a NeXT, que tinha pouco sucesso comercial, mas desenvolvera tecnologia importante, a qual acabou por ser responsável por um grande salto evolutivo nos computadores da Apple.
A aquisição fez Jobs regressar à empresa que fundara. Primeiro como conselheiro e, logo em 1997, como CEO interino, cargo que acabou por assumir definitivamente três anos depois.
Na altura, a Apple estava em dificuldades financeiras. Jobs decidiu acabar com uma série de projectos falhados e lançou uma nova linha de computadores Mac. Eram computadores, disse então, cuja parte de trás tinha melhor aspecto do que a parte da frente dos concorrentes. Sob a sua liderança, a empresa regressou aos lucros.Já neste século, resolve dar um novo novo rumo à Apple.
Rodeado da equipa de executivos que agora lidera a empresa, faz uma incursão no mundo da música: em 2001, a Apple lança o primeiro iPod, que praticamente se veio a tornar sinónimo de leitor de música. Dois anos mais tarde, volta a abalar o sector musical, ao lançar a loja online iTunes: em vez de ser preciso comprar álbuns inteiros, as pessoas podiam agora comprar apenas as canções que quisessem.
Em 2007, já visivelmente debilitado (apesar de o cancro pancreático que aparecera três anos antes ter sido descrito como curado) volta a levar a Apple por um novo caminho, com o lançamento do iPhone. Há anos que a indústria dos telemóveis procurava um modelo com um ecrã sensível ao toque que apelasse aos consumidores. Mas foi preciso o toque de Jobs para que surgisse a fórmula certa.
Com o iPhone, Jobs virou o sector ao contrário. Vários fabricantes apressaram-se a tentar seguir as pisadas da Apple. A Nokia, na altura um portento dos telemóveis, está em declínio, em grande parte porque ainda não conseguiu encontrar forma de competir neste novo mercado.
Dois anos mais tarde, recebeu um transplante de fígado, altura em que teve uma ausência prolongada da liderança da empresa. Em Janeiro de 2011, voltou a uma baixa médica, por motivos de saúde não especificados. Já não regressou. Em finais de Agosto, demitiu-se.
“Sempre disse que no dia em que não conseguisse cumprir com os meus deveres e responder às expectativas como CEO da Apple, seria o primeiro a dar-vos conhecimento disso. Infelizmente esse dia chegou”, escreveu na carta de demissão, dirigida ao conselho de administração e à “comunidade Apple”.
Contrariamente a muitos gestores de topo, Steve Jobs tem uma legião de fãs, o que o aproxima mais de uma estrela musical do que de um homem de negócios. A seguir à demissão, surgiram em catadupa mensagens na Internet com desejos de melhoras e declarações de admiração, mesmo da parte de alguns críticos. Nos últimos anos, quando subia a um palco para apresentar um produto, era sempre recebido com uma ovação. Fê-lo pela última vez em Junho deste ano.

Adaptado de: Público

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