quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Quero cumprir as 35 horas na escola e não faço mais nada em casa. Nada, zero, rien, nadica de nada!!!

A propósito da profissão docente e tendo em conta a realidade vivida no dia-a-dia, reproduzo aqui um artigo do Alexandre Henriques do ComRegras, com o qual concordo inteiramente. Espero que sirva para esclarecer a realidade da profissão docente e não continuem a ser tidos como uns "malandros" que trabalham pouco e têm muitas férias.


Compreendo que os critérios editoriais são o que são, compreendo que um bom título é meio caminho andado para boas audiências, mas de 3 páginas de índice da Análise Sectorial do Docente – 2014/2015, tinha logo que estar escarrapachado na 1ª página do público que mais de metade dos professores tem horário reduzido

Como dizia o outro… não havia necessidade

E é pena porque:

100% dos jornalistas não passam o tempo todo a escrever notícias ou a fazer reportagens;

100% dos médicos não passam o tempo todo a fazer cirurgias ou a atender pacientes;

100% dos juízes não passam o tempo todo em julgamentos;

100% dos bancários não passam o tempo todo a atender clientes;

100% dos polícias não passam o tempo todo a fazer rondas;

Já perceberam onde quero chegar, certo?

Tal como os professores, todas as profissões têm um tempo “letivo” e outro “não letivo”, e não quer com isto dizer que o tempo não letivo seja menos importante que o tempo letivo. Aliás, o “letivo” só pode existir com o mínimo de sucesso graças a toda uma preparação feita nos bastidores. Estando os professores envelhecidos, é natural que haja mais professores com menos aulas, é uma consequência legal mas isto não significa que trabalhem menos. Além disso, a notícia esquece-se dos milhares de professores do 1º ciclo e pré-escolar que não têm nenhuma redução da componente letiva e esses que eu saiba também são professores.

E pelos vistos a DGEEC considerou o desporto escolar como tempo não letivo, mas no horário dos professores de Educação Física este encontra-se na sua componente letiva (afinal como ficamos?) e só quem nunca deu desporto escolar é que pode achar que dar um treino é diferente de dar uma aula. Se calhar no desporto escolar não estão lá alunos, tenho que lhes perguntar o que são…

Esta ideia peregrina que de lés a lés é deitada cá para fora que os professores trabalham pouco e têm muitas férias é uma mentira que teima em ser repetida. Recomendo a leitura do meu artigo “A Verdade Sobre as Férias dos Professores

Pois bem, vamos acabar com as insinuações, as suposições, as bocas e as maledicências…

Os professores passam a cumprir o seu horário integral na escola. Isso mesmo, as 35 horas ali, dentro dos portões das escolas. Acham que havia muitos professores a recusar? Era já o primeiro a aceitar e sabem por quê?

Não mexia uma palha em casa, nada, zero, rien, nadica de nada, fazia as minhas 7 horinhas diárias na escola, até picava o ponto se fosse preciso e parava tudo. Tinha mais tempo para a mulher, para a criança, tinha fins de semana a 100%, tinha mais tempo para escrever, para ler, para ir passear o cão etc…

E mais, também aceito o fim da burocracia e transformamos a componente de estabelecimento em horário letivo. Onde é que posso assinar?

Porque é que o Ministério de Educação não incentiva esta ideia? Porque eles sabem tão bem como nós que as escolas não têm condições para agregar dezenas de professores em horário não letivo/individual e também sabem que a grande maioria dos professores ultrapassa as suas 35 horas semanais, e já agora também sabem que muito professor utiliza material do seu bolso (portáteis, folhas, impressoras, eletricidade, canetas, etc…) que multiplicado por mais de 100 mil era capaz de fazer mossa no orçamento de estado…

Já estou mesmo a ver os testes a serem entregues passado 3 meses, chegarmos às aulas sem nada preparado, não recebermos pais depois das horas de expediente e dizermos aos alunos “olha, eu sei que estás com problemas mas já piquei o ponto, fica para amanhã pode ser?”.

Vá, vamos… querem os professores ao minuto? Vamos então ser professores ao minuto!!!

As escolas só funcionam por muito amor à camisola, por muita carolice e por muita responsabilidade dos seus docentes e já agora não docentes. Esta é a realidade e a sociedade em geral, onde a comunicação social está também incluída devia ter um pouco mais de consideração e respeito para com os seus professores. Quando se fala na desvalorização da classe, o que se passou ontem foi apenas mais um exemplo…

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